COVID-19

Com cautela, trabalhadoras da Nova Zelândia voltam à atividade

O governo e o Coletivo de Prostitutas da Nova Zelândia chegaram a um acordo no último sábado para a reabertura dos bordéis e de outros estabelecimentos onde se pratica o trabalho sexual no país, onde a prostituição está descriminalizada desde 2003. Segundo a Rádio Nova Zelândia, o alerta nacional sobre covid-19 para o setor de trabalho sexual foi rebaixado do nível 3 (restrição) para o nível 2 (redução de risco). Outras atividades comerciais haviam passado para o nível 2 no dia 13 de maio.

A Nova Zelândia tem sido um dos países mais bem-sucedidos no combate à pandemia de covid-19, tendo registrado até agora apenas 1.499 casos e 21 mortes por coronavírus até esta segunda-feira, segundo o mapa global da universidade norte-americana Johns Hopkins. A escala de níveis de alerta para covid-19 do país está explicada em detalhes em um site do governo (basicamente, nível 4 = lockdown; nível 3 = restrição das atividades; nível 2 = redução de risco e nível 1 = preparação com isolamento social).

A coordenadora nacional do Coletivo de Prostitutas, Catherine Healy, disse à RNZ que conversou com muitas trabalhadoras sexuais em todo o país e que todas elas haviam recebido pedidos de clientes para que voltassem ao trabalho, mesmo quando os níveis de alerta eram 4 ou 3. “Havia uma impaciência dos clientes, ou estupidez, não sei qual”.

Ela se disse aliviada com a aprovação do nível 2 para o trabalho sexual, porque muitos clientes poderiam burlar a lei, especialmente no que diz respeito ao rastreamento de contatos, se não fosse permitido que as trabalhadoras sexuais voltassem à atividade. “Percebeu-se que haveria muita beligerância se as trabalhadoras sexuais fossem obrigadas a ficar paradas até que o país chegasse ao nível 1. De fato, sentimos que isso seria totalmente irrealístico e  traria danos em termos de rastreamento de contatos”, acrescentou. (O rastreamento é uma medida adotada pelos países com maior sucesso no combate à pandemia; trata-se de colocar agentes de saúde para localizar e testar todas as pessoas que tenham tido contato recente com alguém que tenha testado positivo, de modo a conter a disseminação do vírus.)

O Coletivo de Prostitutas emitiu uma série de orientações de higiene e prevenção para as trabalhadoras sexuais neozelandesas, que incluem o uso de máscaras e outras formas de trabalho sexual que não envolvam contato físico. Nos bordéis, cada trabalhadora vai prestar serviços em um quarto individual e as jornadas de trabalho serão reduzidas. “Acho que há muita boa vontade. As pessoas estão muito agradecidas por poderem ter permissão para voltar ao trabalho, como outros trabalhadores do país.

As negociações entre várias agências do governo e o Coletivo começaram quando a Nova Zelândia ainda estava em lockdown. Healy afirmou que está preocupada com o risco de aumento da transmissão do coronavírus resultante da reabertura, mas acredita que a decisão de reabrir foi correta, porque ela não queria mais ver as trabalhadoras na posição de não poderem trabalhar.

O chamado Modelo Neozelandês é uma referência para as trabalhadoras sexuais do mundo todo. A realidade de um país onde o trabalho sexual é legalizado é muito diferente da nossa, mas vale a pena estudar esse modelo e acompanhar as atividades das organizações de trabalhadoras sexuais de lá. O site do Coletivo é muito interessante, com seções sobre saúde, direitos, benefícios sociais, legislação, informações para trabalhadoras e também para operadores de bordéis. O Coletivo também está presente no Facebook e no Twitter.


Nota à parte: por seus vários anos de dedicação à defesa dos direitos das trabalhadoras sexuais, em 2018 a trabalhadora sexual aposentada Catherine Healy recebeu da rainha Elizabeth II o título de Dame, o equivalente feminino de Sir.