Putafobia e Violência

“O antro delas” – reportagem e ensaio fotográfico sobre a invasão do prédio da Caixa

“O Brasil esquece que ainda criminaliza e prende homens e mulheres que fazem do sexo a sua geração de renda.”

Reportagem da Mídia Ninja; ensaio fotográfico de Giorgio Palmera, da Fotografi Senza Frontiere

Em Niterói, o Prédio da Caixa é ponto conhecido no centro cidade. Centenas de prostitutas moram e trabalham nos apartamentos que, na última semana, foram invadidos por policiais da 76ªDP e da DEAM de Niterói. Sem mandado judicial, os oficiais invadiram quatro andares do prédio, levaram mais de 100 mulheres para a delegacia e apreenderam seus bens. Segundo Heloísa Melino, mulheres foram agredidas e estupradas – policiais as forçaram a fazerem sexo oral e colocaram as mãos nas genitais das prostitutas.

Originalmente nomeado como Edifício Nossa Senhora da Conceição, o imóvel tem 9 andares e segundo os policiais está sendo interditado pelo péssimo estado de conservação das instalações. Entretanto, o processo ainda está em curso e o documento fixado nas portas indica “Interdição Parcial”, o que comprova que ainda será feita a perícia e a vistoria para a comprovação e interdição oficial. Em relato publicado nas redes sociais, Heloísa afirma: “Fizeram e fazem isso com prostitutas pois têm certeza da impunidade e garantia de que a sociedade não ouvirá o grito delas.”

Mais de 300 pessoas que moram ou trabalham no local estão sendo desalojadas. O comércio de lojas, salões de cabeleireiros e pequenos lugares de alimentação também estão sendo fechados. Idosos que vivem há anos no local agora tem que enfrentar os 9 lances de escada, já que o elevador também foi interrompido. Travestis, gays e lésbicas que encontravam abrigo na região estão na rua.

A ação faz parte da série de impunidades cometidas diariamente em nome de uma cidade mais “limpa”. A especulação imobiliária, que está presente nos grandes centros e desapropria e violenta milhares de famílias, também desrespeita aqueles que usufruem das regiões centrais para garantir seu sustento. O que chama atenção no caso ainda é a forma como os policiais tratam o caso, aproveitando-se das mulheres e apropriando-se de seus bens com a certeza da impunidade corporativa.

As prostitutas se manifestam

No último sábado, 31 de maio, cerca de 300 pessoas foram à rua em uma manifestação pela defesa das prostitutas violentadas. O ato parou Avenida Amaral Peixoto, com uma “pelada” de futebol feminino e intervenções no trânsito local.

Procedimentos legais

A criminalização da prostituição é tema que circula nos corredores do Congresso Federal com o Projeto n° 4.211/2012, proposto pelo deputado Jean Willys. A proposta visa tirar da irregularidade profissionais do sexo. A discussão foi pautada na Comissão de Direitos Humanos e busca garantir o direito ao corpo e as liberdades individuais de homens e mulheres que desejam seguir a profissão.

Para tratar do caso, uma Audiência Pública foi convocada pela Deputada Inês Pandeló, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, e o Deputado Marcelo Freixo, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, e abordará a violação dos direitos humanos na ação e abordagem às prostitutas em Niterói. A Audiência será realizada no dia 4 de junho de 2014, às 13:30 horas, na Sala 311 do Palácio Tiradentes da ALRG.

O fotógrafo Giorgio Palmera, fundador do grupo Fotografi Senza Frontiere, documentou a resistência das mulheres que continuam morando no local e as condições de higiene e estrutura a qual convivem diariamente. Com um olhar sensível e forte, o ensaio mostra a intimidade da prostituição no interior do Rio de Janeiro.