Na Índia, trabalhadoras sexuais criam seu próprio banco
Por Ambika Pandit, para o The Times of India
Nova Delhi – Rita Rai, de 35 anos, deixa as alamedas lotadas do bairro de prostituição de Sonagachi, em Kolkata, às 9 horas todos os dias para ir ao escritório do Banco Cooperativo Usha. Ela passa seu dia ajudando mulheres a abrir contas e avaliando pedidos de empréstimos para apresentar à diretoria para aprovação. Para Rita, uma trabalhadora sexual que também é integrante da diretoria, suas responsabilidades são uma rota para o empoderamento.
O banco, comandado por e para as trabalhadoras do sexo, é sua tentativa de pavimentar o caminho da segurança social para elas mesmas e de lançar as bases de um futuro para suas crianças. Rita disse que a ideia do banco surgiu quando mulheres dos bordéis de Sonagachi perceberam que nenhum banco abriria uma conta para elas por causa do estigma associado à sua ocupação. “No fim, encontramos a solução nós mesmas.”
“As autoridades registraram o banco com uma diretoria de trabalhadoras sexuais. Agora, somos nós que aprovamos empréstimos e ajudamos as trabalhadoras sexuais a planejarem seus investimentos”, disse Rita.
Foi a pobreza que levou Rita ao trabalho com sexo. “depois que meu marido me abandonou e eu voltei para meus pais, não havia comida suficiente para todos nós. Encontrei trabalho como costureira, mas foi obrigada a abandoná-lo depois de o proprietário do centro onde eu trabalhava me assediar sexualmente. Tive uma experiência similar na fábrica onde entrei em seguida. Hoje, este é o meu meio de vida, e quero ser tratada com dignidade”, afirmou Rita.
Rita é uma das representantes de trabalhadoras sexuais de 13 estados indianos filiadas à Rede de Trabalhadoras do Sexo de Toda a Índia (AINSW), que estão na capital para uma consulta nacional sobre “proteção da dignidade e dos direitos das trabalhadoras do sexo”. A consulta vai culminar no lançamento da primeira campanha nacional pelos direitos e benefícios das trabalhadoras sexuais.
Bharati Dei, presidente da AINSW e secretária da Durbar Mahila Samanwaya Samiti, de Kolkata, que trabalha pelas trabalhadoras sexuais, citou a experiência do banco Cooperativo Usha como um sinal de que as trabalhadoras do sexo estão saindo em defesa de si mesmas. “Um conselho regulador em nível estadual precisa ser estabelecido para prevenir o tráfico de meninas e a violência contra aquelas que estão no trabalho com sexo por vontade própria”, disse Dey, que é integrante de um comitê nomeado pelo Supremo Tribunal sobre o combate ao tráfico e a reabilitação de trabalhadoras sexuais.
Ela acrescentou que os legisladores precisam perceber que o trabalho sexual não pode ser eliminado com ações coercivas e leis punitivas. “Eles precisam se engajar em desafios como pobreza, discriminação de gênero, desigualdades sociais e a violência incessante que as comunidades marginais enfrentam”, disse Dey.
Em uma mensagem de vídeo para a consulta, C. Rangarajan, conselheiro econômico do primeiro-ministro e ex-presidente da Comissão Independente sobre Aids na Ásia, disse que “chegou o momento de reduzir a vulnerabilidade das trabalhadoras sexuais por meio do desenvolvimento de um plano de ação sistêmico, que envolva a melhora de sua autoestima e sua inserção na corrente principal de todas as atividades sociais”.
Tradução da reportagem “Sex workers meet to demand rights“, de Ambika Pandit, para o The Times of India, publicada em 22 de agosto de 2013.