PutaFeminismo

Você pode ser feminista e trabalhadora sexual

Trabalhadoras sexuais merecem a mesma dignidade e o mesmo respeito que qualquer outra mulher

Por Leanora Volpe, para o The Independent. Tradução de Renato Martins.

“Algumas pessoas têm a firme convicção de que o trabalho com sexo é sempre explorador, degradante, e mina quaisquer tentativas que estejam sendo feitas para assegurar o espaço da mulher nas esferas intelectual e profissional. Se você mostra os peitos em um bar ou para uma “revista para rapazes”, ou trabalha como prostituta, você é catalogada como vadia, e passa a valer a premissa de que você não tem autorrespeito.

A ideia do trabalho com sexo como degradante não me agrada, porque apesar de todo o trabalho que foi feito para dar direitos e escolhas à mulher, algumas mulheres que orgulhosamente se declaram feministas estigmatizam e policiam o corpo alheio quando se trata daquelas que trabalham nesse setor.

Essa versão do feminismo é mais do que um pouco desconfortável, porque as trabalhadoras do sexo são sistematicamente vitimizadas, criminalizadas e estigmatizadas por expressar sua sexualidade de uma maneira que não se conforma à versão “aceitável” de sexo que criamos em nossas mentes. Nossa defesa contra o proverbial “homem” que está lá para nos pegar e nos trancar na cozinha desaba no ponto em que mais precisamos dela. Elas gritam: “Seu corpo não pertence a eles!” Da última vez que eu olhei, ele também não pertence a você.

O feminismo não é mais do que a crença de que as mulheres são merecedoras de direitos e oportunidades iguais. Não se exige queimar sutiã, odiar homens ou cultivar pelos corporais. e o trabalho com sexo, quando voluntário e consentido, não é “antifeminista”. Trabalhadoras do sexo não ergueram uma bandeira branca e disseram “Oh, então OK, use meu corpo como quiser; não é como se eu quisesse ser tratada como ser humano, mesmo”. É apenas trabalho com sexo, e independentemente de quais circunstâncias econômicas e sociais cercam a opção de uma mulher de entrar para a indústria do sexo, deve-se permitir a ela a dignidade de sentir-se fortalecida por sua escolha, e não catalogada como uma vítima de suas circunstâncias.

O trabalho com sexo tem seus perigos e a indústria do sexo tem sua cota de coerção e abuso, mas quando trabalhadoras do sexo são atacadas ou estupradas, ou mesmo assassinadas, elas não são tratadas com a mesma empatia que outras mulheres vítimas de assaltos. Como elas “se colocaram em risco”, lhes dizem que deveriam “esperar” que homens as maltratassem. Isso joga o ônus do estupro sobre as mulheres que passam por essa experiência, e não sobre aqueles que o cometem. Isso é tóxico e causa dano, e as mulheres que trabalham com sexo não estão nas eclusas segurando a onda do desejo masculino para proteger “outras” mulheres de estupros e de ataques. Elas não estão “pedindo isso” ao colocar-se naquela posição.

Essa oposição ao trabalho com sexo não liberta as mulheres, ela tira sua voz e as transforma em meros corpos -e, até onde eu sei dizer, é sobre isso, para começo de conversa, que as feministas que se opõem ao trabalho com sexo ficam tão iradas. Dizer a uma mulher o que ela pode e o que ela não pode fazer com seu corpo cheira a – uau! – misoginia.

Nós defendemos, corretamente, o direito de uma mulher de dizer “não”, mas devemos igualmente defender seu direito de dizer “sim”. Você pode ser feminista e gostar da atenção masculina. Você pode ser feminista e depilar as pernas. Mas, acima de tudo, você pode ser feminista e prostituta. E é tempo de nós pararmos de limitar a experiência feminina a um conjunto de ideais puristas sob o disfarce do feminismo, e começar a dar a mulheres de todos os setores da vida o poder de fazer suas próprias escolhas sem julgamentos.”


Leanora Volpe (@lea_volpe) é estudante da Universidade de Oxford, na Inglaterra.

Acesse o artigo original: You can be a feminist and a sex worker.

Um comentário sobre “Você pode ser feminista e trabalhadora sexual

  • Eu pensei um dia que não podia ser nada, justamente porque me fizeram acreditar nisso,
    Acontece que cresci, me encontrei com outras Putas como eu e ví o quanto eu tinha perdido meu tempo me escondendo, vivendo de aparencias só para satisfazer uma Sociedade pobre de espírito e que respira o mesmo ar que eu, come a mesma comida, pega no mesmo dinheiro que eu pego, lêem os mesmos livros que gosto de ler e tem os mesmos desejos que eu, o desejo de igualdade entre homens e mulheres e porque não citar também, que votavam nos mesmos candidatos que Eu.Um dia conheci uma Feminista assim e Porra, nós éramos iguais e diferente apenas numa coisa: Ela nunca tinha experimentado um Orgasmo porque não se dava esse direito, acreditando que era coisa que só as Putas experimentavam. Tive pena… Ela não queria ser Eu porque não podia mas eu não queria ser ela, e podia. Neste dia descobri que podia ser tudo e que eu era, uma Puta Feminista e aquela pobre Feminista que estava ali, era uma escrava, escrava dos seus Preconceitos, escrava da discriminação que caia sobre ela por ela andar ao lado de uma Puta. Ela se foi cedo, interromperam sua vida, seus sonhos e seu desejo de vencer todos os Preconceitos e viver um orgasmo, que poderia ser comprado ou vendido, ou simplesmente sentido, compartilhado…
    Saudades eterna! E a luta continua Mulheres não Putas. Seguiremos: unidas ou separadas, mas seguiremos, até que todas sejamos livres. Só não queira nos atrapalhar com seus discursos conservadores e radicais. Se não querem estar conosco não queiram nos impedir de vivermos nosso Feminismo. Avante! Porque podemos ser tudo que quisermos!

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