Manual do cliente: aprenda a não agir como um mala sem alça
Por Olive Seraphim, em seu blog The Life and Works of Olive Seraphim
Tenho feito trabalho sexual de forma intermitente por dois anos. Topei com alguns dos clientes mais adoráveis que alguém pode esperar. Também encontrei alguns horríveis. À luz disso, decidi escrever um guia básico sobre como tratar trabalhadoras do sexo como cliente.
Sou uma trabalhadora do sexo que oferece serviço completo e não tenho feito outro tipo de trabalho, mas vou tentar incorporar outros tipos de trabalho com sexo, à medida do possível, e fazer este guia tão generalista quanto eu puder. Só para deixar claro, o que estou discutindo aqui é etiqueta, e não leis de criminalização do trabalho com sexo. Sou 100% a favor da descriminalização completa da indústria do sexo.
1. Traga dinheiro
Se você está se encontrando com uma trabalhadora sexual que oferece serviço completo, saiba quanto custa e traga a quantia exata em dinheiro pelo que você quer. Pergunte o que está incluído; não parta da premissa de que ela vai fazer o que você quiser por sua tarifa básica. Certas coisas, como beijar, são normalmente um extra. Se você quer isso, ou outra coisa específica, pergunte se ela o faz e se isso está incluído no preço ou é um extra. Não há nada pior do que clientes que aparecem sem dinheiro suficiente. Também: leve a quantia exata; nós normalmente não temos troco. E também: não apareça em um clube de qualquer tipo sem levar dinheiro; dançarinas e performers ganham sua vida com gorjetas, danças privadas etc. Não seja o cuzão que aparece só para comer com os olhos.
2. Higiene pessoal
Não importa se você está visitando uma trabalhadora sexual de serviço completo, um clube de strip, uma massagista erótica etc. Qualquer tipo de interação que envolva uma interação cara-a-cara exige que você esteja limpo. Tome um chuveiro antes de ir lá (se você está se encontrando com uma garota de programa, ela pode pedir que você tome um chuveiro; faça isso, mesmo que você tenha acabado de tomar um. Sério: para nós se trata de saúde e segurança do trabalho, e uma discussão desnecessária). Escove seus dentes, use anti-séptico bucal; o mau hálito torna difícil até mesmo conversar com você, mais ainda chegar perto e beijá-lo. Cheiro de corpo é outra coisa: nós não queremos cheirá-lo. Use desodorante. E, pelo amor de Deus, se você é não é circuncidado, lave debaixo do prepúcio. Não há nada mais nojento ou constrangedor do que ter de limpar seu pau com uma toalhinha higiênica para bebês, como se você fosse uma porra de uma criança, porque você não se deu ao trabalho de fazer isso você mesmo.
3. Se você estiver contratando uma dança privada, use jeans ou algum tipo de calça grossa
Ter de se esfregar em tecido fino com fluido pré-seminal é nojento e nos coloca sob risco de doenças sexualmente transmissíveis. Se você quer contato completo, pague por isso. Se a dançarina não oferece esse serviço, procure uma trabalhadora sexual que o faça.
4. Dê gorjeta
Isso vale especialmente se você está num clube de strip. Dançarinas ganham a vida com gorjetas. É terrivelmente rude conversar e flertar com uma mulher sem a intenção de comprar uma dança ou mesmo um drink. É ainda pior se ela balança os peitos para você e você fica lá sentado, como um bundão, e não faz nada. Se você não vai dar gorjeta, caia fora do clube. Também é uma boa dar gorjeta para a sua massagista, acompanhante etc. Você vai nos fazer felizes e, como resultado, obter um serviço melhor. Confie em mim, bons clientes obtêm tratamento melhor; portanto, seja um bom cliente. Se você for generoso conosco, seremos generosas com você.
5. Leia
Não tenho como contar o número de vezes que tive de responder às mesmas perguntas estúpidas só porque alguns clientes parecem ser incapazes de ler. Um clube de strip tem regras, e aquelas regras sempre estarão exibidas em algum lugar visível, por exemplo perto da entrada. Leia-as e siga-as. Se você não conseguir ver uma lista de normas em algum lugar, e não sabe como se comportar, pergunte a um funcionário (não a uma dançarina, que elas estão ocupadas; pergunte a um barman ou a um segurança).
Muitas acompanhantes fazem publicidade na internet. Em nossos anúncios, damos tanta informação quanto a lei nos permite. Leia. Não nos importamos em responder a perguntas ou em esclarecer coisas, mas não ligue perguntando “você faz xyz?”, quando nosso anúncio diz claramente que não fazemos aquilo. Você está desperdiçando seu tempo e isso faz você parecer estúpido. Não pergunte por nossos preços quando eles já estão claramente mostrados ali.
6. Não peça por desconto ou serviço grátis
Você precisa entender uma coisa: este é nosso meio de vida. Você não pediria desconto a seu fisioterapeuta; você não pediria desconto a seu personal trainer; portanto, por que diabos pediria para nós? Se listamos nossos preços, isso é o que cobramos. Se você quer outro serviço, diferente daquele que listamos, então é aceitável ligar e perguntar quanto ele custaria. Mas não pense que você tem direito a uma tarifa menor só porque quer apenas um boquete ou uma punheta, e não serviço completo. Você está pagando pelo nosso tempo, e massagens e boquetes podem exigir tanto esforço quanto, se não mais, do que trepar. Além disso, “Sou estudante/aposentado” não é desculpa; isso aqui não é uma visita à porra do zoológico. Nós não aceitamos cartão de desconto. O parágrafo seguinte poderia se encaixar aqui, mas acho que ele precisa ser colocado por si só, porque é um problema enorme.
7. Não nos convide para sair
Sério, nós não queremos sair com você. Podemos dizer que somos solteiras – em alguns lugares, o estabelecimento exige que digamos isso -, mas, sabe, temos parceiros com quem mantemos um relacionamento monogâmico. E mesmo quando estamos solteiras, não queremos sair com você. Clientes nos pedem isso constantemente. Não sei se vocês todos pensam que estão nos resgatando, ou alguma merda dessas, mas você na verdade está tornando as coisas piores para nós, não melhores. Se você gosta tanto de nós, pague por nosso tempo, como merecemos. Há algumas trabalhadoras sexuais que na verdade têm encontros com clientes, mas aposto até o último tijolo da minha casa que ele não a convidou depois do primeiro encontro, para depois importuná-la se ela recusar. Não há nada menos atraente do que um homem que nos ignora de propósito, vai contra nossa vontade e está disposto a nos assediar e a nos coagir a fazer o que ele quer. Quanto mais você nos incomoda, mais você reafirma quão certas estávamos ao recusá-lo. Trabalho sexual não é como “Uma Linda Mulher”, e você não é Richard Gere. Nós não queremos ser resgatadas, só queremos fazer nosso trabalho.
8. Não peça fotos
A maioria das acompanhantes tem fotos em sites, que não mostram seus rostos. Há uma razão para isso. Dificilmente mandaremos a você uma foto de nosso rosto, quando trabalhamos em uma indústria altamente estigmatizada e frequentemente ilegal ou semilegal. Mais do que isso, você está desperdiçando nosso tempo e crédito, e sabemos muito bem que você não vai pagar, apenas pegar. Não fazemos merda nenhuma de graça. Se você ligou para uma acompanhante a partir de um anúncio de jornal, é perfeitamente aceitável perguntar se ela tem um perfil online com fotos. Na verdade, pedir um link para as informações dela é uma das melhores maneiras de obtê-las, ao invés de nos fazer mandar SMS com nossos preços e informações.
9. Seja respeitoso e respeite nossos limites
Não somos objetos com os quais você pode fazer o que quiser. Embora a maioria dos homens entenda isso, sempre há alguns que vão querer passar dos limites, sabendo muito bem que você está desconfortável com isso. Esta é uma maneira infalível de obter um serviço ruim, na melhor das hipóteses, e de entrar na listra negra, na pior delas. Se você não tem certeza de que ela concorda que você faça alguma coisa, pergunte a ela. O consentimento é importante. Se ela disser não, respeite isso, e mesmo que ela diga não, ela ficará agradecida por você ter perguntado. Isso também se aplica aos clubes: não agarre as dançarinas, não belisque a bunda da moça seminua que lhe serve um drink e, basicamente, não seja um cuzão. Além disso, garçonetes topless também merecem gorjetas; elas aguentam muita merda.
10. Não fique perguntando se nós estamos gostando
Vou lhe contar um segredinho: algumas acompanhantes amam seu trabalho e têm orgasmos com quase todos os clientes, Algumas têm orgasmos com frequência, algumas somente com uns poucos clientes regulares, e algumas nunca têm. Parte daquilo pelo que você está pagando é fantasia, e estamos felizes em atender. Isso é uma transação mutuamente benéfica, e estamos felizes em ter a sua companhia, tendo orgasmo ou não; para nós, o orgasmo não é o foco da transação. Além disso, não há nada menos sexy do que alguém que fica perguntando se estamos fingindo.
11. Não pressione por tempo
Algumas acompanhantes vão tentar fazer você gozar o mais rapidamente possível e então ir embora. Pessoalmente, não é assim que eu trabalho, mas cada trabalhadora tem uma maneira diferente de trabalhar. Se você está preocupado com isso, pergunte antes: quantas vezes eu posso gozar? Ela pode dizer uma vez só, talvez duas, ou talvez quantas vezes você quiser. Depende dela. Discutir essas coisas antes vai evitar aborrecimentos para ambos. Se você está num encontro no qual só um orgasmo é permitido, faz sentido que você queira segurar até o fim do encontro. Mas quando o tempo combinado tiver acabado, não se pode exigir da trabalhadora que lhe dê tempo extra só porque você ainda não gozou por qualquer motivo. Vou lhe dar uma dica de profissional: se você seguiu os passos acima e ainda não teve um orgasmo, é mais provável que ela lhe dê uns minutos extras para acabar. Mais do que isso: o tempo que passou, passou. Não peça por mais. Se estamos trabalhando em um bordel, não temos permissão para dar tempo extra, de qualquer maneira, porque na verdade você está pagando pelo quarto, separadamente de nosso serviço, de modo que podemos ser cobradas pelo bordel. Se somos independentes, podemos ter outros clientes. E mesmo que não tenhamos, você não tem direito a mais do que aquilo por que pagou. Quer mais tempo, pague por mais tempo.
12. Não peça por serviço “ao natural”
Se alguém está fazendo ao natural (bareback/sem camisinha) para você, ela está fazendo o mesmo para outros clientes, também. Você quer mesmo fazer qualquer tipo de sexo sem proteção com uma trabalhadora sexual que presta serviços ao natural com seus clientes? Sexo oral também traz riscos de doenças sexualmente transmissíveis; usar camisinha para oral é tanto para a nossa proteção como para a sua. Sexo oral pode transmitir herpes, verrugas, gonorreia, clamídia, sífilis e mesmo vírus carregados pelo sangue, como HIV e hepatite.
13. Não ofereça drogas como pagamento
Quero bater na cara de todos os que fazem isso. Em primeiro lugar, a premissa de que trabalhadoras sexuais são usuárias de drogas é “putafóbica”, porque sem que você saiba, a pessoa a quem você está oferecendo drogas pode ser uma viciada em recuperação, e sua oferta pode provocar uma recaída. Isso é uma das piores coisas que você pode fazer. Algumas trabalhadoras sexuais, assim como a população em geral, usam drogas; neste caso, elas deveriam ser um bônus acrescentado ao pagamento em dinheiro. Mais do que isso, se você quer usar drogas junto com uma trabalhadora sexual, pergunte a ela antes; e se ela disser não, deixe de lado. Se isso for uma condição para a transação, diga a ela que você pretende usar antes de marcar com ela, e pergunte se isso está OK para ela.
14. Não mande fotos de pinto
Não há necessidade de nos mandar quaisquer fotos, a não ser que sejam pedidas, mas posso assegurar que não estamos interessadas em seu pinto. Também posso assegurar que já vimos maiores.
15. Não espere por serviço se tiver uma doença transmissível
Presume-se que você manipule seu pinto diariamente, de modo a notar se aparecem inchaços esquisitos, feridas, secreções ou mudanças na cor da pele. Vá a um médico. Se você não pode pagar por um médico, também não pode pagar por uma trabalhadora sexual. Não somos obrigadas a prestar qualquer tipo de serviço se suas partes parecem doentes, embora algumas trabalhadoras sexuais possam oferecer generosamente um serviço alternativo, como uma punheta com camisinha ou luva. Isso é mais do que devemos fazer, e você deveria agradecer. Mesmo quando não oferecemos isso, você não merece uma restituição do dinheiro – por ter desperdiçado um tempo em que poderíamos estar atendendo a outra pessoa que não tenha tão pouca preocupação com estar disposto a nos infectar com alguma doença transmissível.
16. Não reclame dos preços
Se for muito caro, não marque. Simples. Você pode obter o mesmo serviço mais barato em outro lugar? Muito bem, vá lá. Não estamos interessadas no seu mimimi.
17. Seja pontual
Frequentemente temos agendas que precisamos cumprir; isso significa que se você está atrasado, temos de empurrar para trás todos os outros clientes do dia. E não chegue cedo demais. Podemos ainda estar com outro cliente, ou nos aprontando. Nós temos motivo para marcar horários, e se você vai chegar cedo ou tarde, nos avise.
18. Não envie SMS se não quiser uma resposta
Trabalhadoras diferentes têm maneiras diferentes de trabalhar. Pessoalmente, nunca retorno telefonemas, já que é muito caro para mim, e não quero que uma esposa ou namorada atenda. Mas assumo que se você me manda um SMS, você quer uma resposta. Se você quer uma resposta somente dentro de um período de tempo, informe. Se você nos liga e não respondemos, e ainda assim você quer nos alcançar, ligue de novo depois de um tempo ou envie uma mensagem pedindo que entremos em contato quando estivermos disponíveis.
19. Comunicação é essencial
Já falei sobre obter consentimento antes de fazer qualquer coisa. Leve em conta, também, que é estranho para nós quando você não nos diz o que quer ou pergunta “o que você quer fazer?”. Todas nós sabemos que essa pergunta realmente significa “o que você faz dentro dos limites do que eu acho sexy?”. A verdade é que o que eu mais quero fazer com um cliente, na maioria das vezes, é pegar seu dinheiro e voltar a dormir ou a ler um livro – mas, obviamente, não posso lhe dizer isso. Além disso, se você está fazendo algo a nós, pergunte como nos sentimos. Não comece a nos perfurar com seus dedos sob a premissa de que a sensação é boa (provavelmente não é; a maioria dos homens é inútil ao usar os dedos). Pergunte se gostamos, pergunte se queremos igual, mais forte ou mais fraco. O mesmo quando estamos fazendo qualquer coisa; diga-nos se você quer mais rápido, ou mais lento, ou se quer que mudemos de posição; não agarre e faça, sem mais nem menos.
10. Não peça nossos detalhes pessoais
Nós usamos nomes falsos por uma razão: o trabalho que fazemos é altamente estigmatizado e estamos sempre correndo o risco de lidar com alguém que comete abusos. Embora perguntas gerais num contexto de jogar conversa fora sejam OK, não peça nossos nomes verdadeiros, quantos clientes tivemos hoje (realmente, para quê você quer saber?), se temos namorado, onde moramos, se temos filhos, se nossas famílias sabem o que fazemos, por que entramos nessa profissão… Na verdade, evite perguntar sobre nosso trabalho em geral. Perguntas apropriadas em conversa fiada incluem “como foi foi o seu dia? Muito agito nesta semana? Que tal o tempo? Você acompanha tal evento ou tal time?”
21. Não perca tempo demais discutindo detalhes ao marcar um encontro
Repito, nosso tempo é valioso e não queremos ler e responder 50 mil mensagens sobre todo pequeno detalhe de um encontro. Se há algo específico que precisamos saber com antecedência, por exemplo um acessório que precisamos levar, você deve nos dizer isso, mas em geral o tipo de pergunta que as pessoas nos enviam estão respondidas em nossos anúncios, de qualquer modo, e você poupa tempo e esforço de nós todos se ler aquela porra. Além disso, não ligue ou envie mensagem apenas “para conversar”. Nós não somos suas amigas, temos nossos próprios amigos e vidas sociais. Você é um cliente, e estamos prestando um serviço; se você quer conversar durante um encontro, tudo bem, mas não espere que o façamos de graça. Além disso, tentar fazer sexo por mensagem ou ao telefone conosco é irritante e nojento.
22. Em geral, trate-nos com respeito e leve em conta que este é nosso meio de vida
Fora o resto, lembre-se do seguinte: não sacaneie trabalhadoras sexuais, porque nós sacaneamos também. Temos redes, conversamos umas com as outras e advertimos umas às outras sobre quem comete abusos, quem desperdiça tempo, clientes que pedem serviços ao natural e, em geral, sobre quem mais incomoda do que vale. Por outro lado, também conversamos sobre bons clientes, de modo que, se você marca com alguém, outra trabalhadora que o atendeu antes pode até dizer “eu me lembro dele, ele é adorável!”, e isso cria um tom maravilhoso para seu encontro. Não crie uma má reputação; trate-nos com respeito e iremos cuidar de você.
Ao fim do dia, somos pessoas, e você está pagando pelo nosso tempo. Durante esse tempo, incluímos determinados serviços. Merecemos o mesmo nível de respeito que todo mundo. Se você seguir o que foi dito acima e usar o bom senso, vamos tratá-lo com respeito, também, e desenvolver um relacionamento de trabalho no qual realmente vamos querer vê-lo e curtir a sua companhia. Isso é o máximo que você pode esperar de nós; uma interação amigável e um bom serviço, que nos deixe ambos/todos felizes. Se você quer uma namorada ou uma parceira para tomar uns drinks, está latindo para a árvore errada. Em vez de se posicionar para um desastre, respeite nossos limites, inclusive os limites de nosso relacionamento de trabalho, e você vai obter de nós o melhor serviço possível.
Olive Seraphim é uma trabalhadora sexual australiana e se define também como escritora, poeta, feminista e cristã ortodoxa. Este guia foi publicado em seu blog The Life and Works of Olive Seraphim, em 27 de junho de 2013.
Traduçãozinha do cacete, hein?