Cultura

Quem são as pessoas que procuram por serviços sexuais?

Por Duda Ferrarini

Há um texto meu falando da pluralidade de corpos que exercem o trabalho sexual.

Mas me dei conta de uma coisa: quem fala dessa mesma diversidade dos clientes que esses corpos atendem?

Ao que parece, as pessoas não pensam nisso. De certo, no imaginário popular, a pessoa que procura o trabalho sexual surge das cinzas, como uma fênix, nas boates e nas esquinas, ou, quiçá, nos nossos contatos de trabalho.

Mas, olha só, essas pessoas que procuram nossos serviços são pessoas reais. Seu vizinho gente boa que passeia com o cão numa tarde fresca, despretensiosamente. Aquele professor que dá aulas tão boas. O padeiro, o pedreiro, a dona de casa buscando uma experiência nova, seu primo que adora uma balada. Seu pai, seu irmão, seu tio. Aquele senhor que te dá bom dia pela manhã. Aquele nerd da sua aula na faculdade, que não chega em ninguém. Um cadeirante, que, aliás, as pessoas se esquecem que pode ter uma vida sexual ativa. O seu marido, que pode estar feliz com você e, até pensa em te sugerir um ménage, ou, por alguma razão quer se separar e não tem coragem de seguir em frente. Uma esposa que, secretamente, gosta de mulheres, ou até mesmo quer ter uma aventura com um garoto de programa.

O gringo que chega em um novo país e não sabe por onde começar, então procura esse serviço, porque para os corpos a linguagem do prazer é universal. Um casal querendo esquentar a relação. Seu amigo confuso, que tá sofrendo por amor e só precisa de alguém que o escute, por uma ou duas horas, porque ninguém mais entende o que ele sente e necessita de uma pessoa fora do seu círculo pra desabafar.

Uma pessoa, apenas querendo dar vazão ao tesão acumulado.

E todas essas pessoas, que vivem no mundo real e convivem com você, e passam por você, e até vivem com você. Essas pessoas que procuram esse serviço, que está sendo exercido desde que o mundo é mundo.

Nossos clientes são seres humanos, como qualquer outro que tem necessidade e direito ao prazer.

Sim, o prazer é um direito. O sexo é um direito. E, chega a ser estranho ter que lembrar, em pleno século XXI que o ser humano faz sexo. Pessoas têm fantasias, desejos, fetiches. Chega a ser ridículo lembrar que isso é natural, e não monstruoso.

Monstruoso é querer tapar esse sol com a peneira, monstruoso é criminalizar essas pessoas por tentarem ser felizes e quererem sanar uma necessidade.

Lembre-se que nós, corpos que exercem o trabalho sexual, prestamos serviços a todas essas pessoas. Cuidamos com carinho e respeito das pessoas que também fazem parte do seu convívio.

Vale a pena pensar os lados existentes do trabalho sexual. Vale a pena essa discussão, para que um dia as pessoas que você ama ou admira não sejam criminalizadas por procurar pelo serviço sexual, para que essas pessoas não sejam vistas como monstros.

Os monstros são outros, e deter informação faz toda a diferença no combate à criminalização, ao preconceito e estigma que permeia esse universo.