Entrevistas

Entrevista: Indianara Siqueira fala sobre o trabalho durante a Copa

Indianara Siqueira é trabalhadora sexual e assessora parlamentar do deputado federal Jean Wyllis (PSOL-RJ). Ela deu esta entrevista à ativista Branca Schulz (@brancaschulz) no período da Copa do Mundo.

Branca: Durante o período pré-Copa foram levantados inúmeros debates sobre o turismo sexual no evento. Sabemos que esse debate possui diversas facetas, dentre elas a exploração sexual de crianças e adolescentes. Em que muda esse contexto durante o período do mundial? Até que ponto a regulamentação da prostituição como profissão ajudaria a prevenir casos de abuso?

Indianara: A regulamentação da prostituição permitiria que o governo pudesse fiscalizar melhor as áreas de prostituição, combatendo a exploração sexual de adultos e crianças e adolescentes, empoderando as prostitutas maiores e livres para denunciar e de certa maneira isso agiria na prevenção, pois uma vez a notícia de punição espalhada, outros ficariam com medo de praticar. Durante o período do mundial nada muda, apenas teremos mais gente no nosso país. Isso não quer dizer que teremos “mais predadores sexuais”.

Branca: Existe uma preocupação com a segurança das trabalhadoras diante da maior vulnerabilidade diante dos estrangeiros, uma vez que a prostituição ainda não é legalizada, podendo provocar uma sensação de impunidade aos possíveis abusadores. Houve alguma ação preparatória de precaução por parte do movimento para lidar com os turistas que estão vindo ao Brasil para o Mundial?  Da mesma forma, houve alguma ação/diálogo do governo com o movimento sobre essa questão?

Indianara: Nenhum diálogo por parte do governo (já que isso não seria bem visto pela bancada evangélica e conservadora). Já algumas instituições que trabalham com prostitutas e grupos ofereceram/fizeram cursos de outros idiomas como inglês e espanhol.

Branca: Recentemente li uma matéria sobre as prostitutas do Ceará que aderiram ao verde e amarelo para atrair turistas. Na mesma matéria, se colocou a questão de valores de programas diferenciados caso a seleção brasileira esteja na cidade. Que outros tipos de atrativos criativos foram criados? Há um consenso nos valores de programas?

Indianara: Na realidade o preço aumenta por conta da maior procura, dependendo da época do ano, tal como carnaval e réveillon.

Branca:  Em São Paulo vimos que algumas casas noturnas criaram cursos de inglês voltados à Copa do Mundo, outras profissionais criaram um planejamento para acompanhar os jogos em várias capitais. Os grandes eventos movimentam o mercado do trabalho sexual. Quais são as perspectivas das prostitutas para a Copa do Mundo? De fato, há um numero superior de clientes turistas? Há algum perfil?

Indianara: Há um número maior de turistas, tanto estrangeiro como do Brasil todo. O perfil é o mesmo: “quem tem dinheiro sobrando pra pagar”, seja a puta de 5 reais como a de 5 mil.

Branca: Em algumas redes, em especial de defesa dos direitos das mulheres, defende-se que a legalização da prostituição é a legalização da exploração sexual da mulher, partindo de uma premissa de que trabalho sexual é inerentemente explorador. O que o movimento tem a perder com esses argumentos que se infiltram nos meios liberais/movimentos sociais?

Indianara: Em primeiro lugar, não se pode legalizar algo que não é ilegal. A prostituição nunca foi e não é ilegal no Brasil, ao contrário. Pelo CBO  5198-05 do Ministério do Trabalho, ela é uma ocupação legal. Sobre a exploração das mulheres, isso não é culpa da prostituição, nem da sua não regulamentação como trabalho, ou, se acontecer, da sua regulamentação, mas sim culpa de uma sociedade patriarcal, machista, misógina, homolesbotransfóbica que põe a mulher como cidadão de segunda categoria.

Branca: Acompanhamos pelas redes sociais o Puta Dei, ação realizada pela Daspu e outros parceiros. Qual era a proposta dessa ação?

Indianara: Chamar a atenção para a regulamentação da prostituição como trabalho através do PL Gabriela Leite, mostrando que as putas existem e podem falar por elas.