Escolhas

Mais decidida do que muitos universitários

Por Erika Bismarchi

Aos vinte e dois anos de idade, Lol faz o estilo adolescente. Com um metro e setenta de altura e cinquenta quilos, parece ainda mais jovem do que realmente é. Magra, parcas curvas, seios muito pequenos e sem um único pelo no corpo, ela reforça propositalmente uma imagem impúbere prendendo seus longos cabelos loiros com uma maria-chiquinha. Engana-se, porém, quem pensar que ela foi aliciada em sua inocência ou arrastada pela falta de perspectivas de uma vida sofrida. Seria igualmente um erro deixar-se levar pelo ar de ingenuidade e inexperiência. Lol começou a vender seu corpo aos dezoito anos porque assim o quis. Desde essa idade, ela achava que poderia passar a vida toda vendendo sexo para sustentar seus vícios e desejos. Estava muito mais decidida e segura sobre o que queria para seu futuro do que muitos jovens universitários.

Planejou e pôs em prática. Começou montando um blog pessoal. O conteúdo, porém, em nada lembrava os similares adolescentes, com historinhas pessoais de família, juras de amor e amizades eternas. Em vez disso, ela se exibia em fotos de rosto e de corpo inteiro, com legendas picantes e sugestivas, além de fornecer o número de um telefone celular e e-mail, para que os homens a adicionassem em conversadores instantâneos. Em pouco tempo, usava todos os recursos da internet para cobrar por qualquer serviço sexual, desde strip-teases via webcam até a entrega em domicílio de seu corpo em carne e osso. Desde essa época, já oferecia os programas em dupla com a namorada dela, com quem viria a dividir um apartamento. O valor é dobrado, mas o prazer, promete Lolita, é triplicado. Na falta de volúpia em seu corpo, vende o tabu e a tara de fazer sexo com uma menina.

Com o tempo, foi ampliando sua presença na rede, por meio de anúncios em sites especializados e perfis em variadas redes sociais – inclusive em algumas criadas especialmente para esse nicho de mercado. Conquistou dezenas de milhares de seguidores no Twitter e interagia com eles diariamente. Como propaganda, fez vídeos ao vivo com sua webcam. Lançou ainda um blog com informações sobre sexo e, mais tarde, criou no YouTube um programa – ainda que amador – com entrevistas a médicos e outros especialistas, como se fosse uma jornalista, sobre temas candentes, como DST e impotência.

Mas esse mercado, entretanto, provou-se com o passar de pouco tempo um nicho difícil para Lol e milhares de outras mulheres como ela. Com encontros de duas horas, essas mulheres passaram a disputar um mercado extremamente competitivo. A internet havia se tornado uma vitrine virtual de tudo, inclusive para elas. Baixas e altas, gordinhas e magras, musculosas e frágeis, anunciam seus serviços e corpos nas prateleiras dos mercados virtuais para uma hora com homens excitados e de gostos muito diversificados.

Trecho retirado e misturado do livro-reportagem Luxuosa Luxúria.


Erika Bismarchi é uma jornalista diletante. Diplomou-se em jornalismo não para ter um crachá da TV Globo, mas para usá-lo como ferramenta de seu objetivo pessoal, que é contribuir para tentar tornar o mundo menos desigual e mais justo.

Com essa ferramenta, pesquisa e investiga há 9 anos questões que permeiam a desigualdade entre gêneros. Com esse mesmo princípio utópico, atualmente cursa o último ano de Serviço Social.